Padre Wagner Ferreira, |
Nesta
sexta-feira, 2, a Igreja celebra um dia especial de orações pelos
fiéis defuntos, o dia de Finados. Desde os primeiros séculos, os
cristãos já visitavam os túmulos dos mártires para rezar por eles
e por todos aqueles que um dia fizeram parte da comunidade primitiva.
No século XIII, o dia dos fiéis defuntos passou a ser celebrado
oficialmente em 2 de novembro, já que no dia 1º de novembro era
comemorada a solenidade de todos os santos.
Ao celebrar esta
data, é comum pensarmos sobre o fim da vida neste mundo. Logo, é
possível se perguntar: o que acontece após a morte? Para onde foram
os que morreram? Céu e inferno são realmente lugares ou apenas
estados de espírito?
Padre Wagner
Ferreira, Doutor em Teologia Moral e Formador Geral da Comunidade
Canção Nova, explica, segundo a doutrina da Igreja Católica, o que
acontece à pessoa após a morte. O padre fala ainda sobre céu,
inferno e purgatório e, esclarece a diferença entre o juízo final
e o fim do mundo.
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– Em
primeiro lugar, como devemos olhar a realidade da morte?
Padre Wagner Ferreira – Quando a Igreja lida com a morte, Ela sempre tem o seu olhar voltado para o Mistério de Cristo Vivo e Ressuscitado. Como diz o livro do Apocalipse, Ele é o vivente. Ele é fonte de vida e ressurreição para aqueles que nele crêem. A Igreja vê a realidade da morte como uma realidade dramática, que toca toda e qualquer pessoa humana, mas ao mesmo tempo, tendo o seu olhar fixo em Jesus Ressuscitado, a Igreja crê na morte humana como uma passagem, um momento em que vamos definitivamente ao encontro de Deus, com muita esperança.
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– O que a
Igreja ensina sobre o céu e o inferno?
Padre Wagner Ferreira – O céu é a própria vida de Deus, da Santíssima Trindade. Fomos salvos por Jesus para viver eternamente na vida de Deus. No céu, nós experimentaremos plenamente o amor do Senhor. É a nossa alegria eterna, a felicidade eterna. O inferno é aquele estado da alma em que, a pessoa, com clareza, com consciência muito clara, rejeitou a vida de Deus. É uma realidade dramática até pensar nisso. Deus tem um amor profundo e imenso pela pessoa humana. Criou cada pessoa livre e Ele não quer que ninguém O ame de forma obrigada. Deus não nos criou para sermos robôs. Mas, no respeito da nossa liberdade, ele respeita também aquele filho que quis dizer não a Ele. Portanto, o inferno seria esse momento definitivo em que a pessoa escolhe de forma muito clara, uma existência eterna, porém, sem Deus.
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– Segundo
a Bíblia e a doutrina Católica, o que acontece após a
morte?
Padre Wagner Ferreira - A partir da revelação bíblica, dos textos das Sagradas Escrituras, principalmente os textos do Novo Testamento, a Igreja crê que as pessoas, depois de sua morte, fazem a experiência do chamado juízo particular. Se elas estiveram, em sua vida terrena, comprometidas com Deus, com os valores do Reino de Deus, da justiça, do amor, da solidariedade para com o próximo e tudo mais, é claro que estas pessoas viveram uma vida de seguimento de nosso Senhor Jesus Cristo e vão seguir o Senhor também em sua vitória na Ressurreição. Essas pessoas em seu juízo particular, vão para a glória de Deus, para o Céu, para a Vida Eterna.
Agora, quem,
infelizmente, viveu sua vida terrena sem compromisso com Deus, com a
fé, com o amor ao próximo, a justiça, a solidariedade, depois de
sua morte a pessoa segue para um juízo particular de condenação. É
Claro que Deus não condena ninguém, mas a pessoa que, durante sua
vida, escolheu uma vida sem Deus, descomprometida, desvinculada do
amor ao próximo, da solidariedade e assim por diante, ela mesmo se
condena. Mas, a Igreja nunca se pronuncia dizendo: tal pessoa foi
para o inferno! Por mais terrível que tenha sido aquela pessoa,
jamais a Igreja se pronuncia desta forma.
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– E o
purgatório, como compreendê-lo?
Padre Wagner Ferreira - Se a pessoa procurou seguir a Cristo, mas em alguns momentos de sua vida, essa opção pelo Senhor e pela vivência dos valores do Reino de Deus não foi vivida com tanta coerência, a Igreja acredita que a pessoa passa, depois de sua morte, por uma experiência de purificação final, antes de participar eternamente da glória de Deus. É o que a Igreja chama de purgatório, ou seja, uma purificação final para que a pessoa possa participar eternamente da glória de Deus.
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– Quanto à
salvação: é dom de Deus ou fruto do esforço humano?
Padre Wagner Ferreira - A Igreja professa essa verdade, juntamente com o Apóstolo São Paulo: as pessoas são salvas pela graça de Deus, pela fé em Jesus Cristo. Mas, o Apóstolo São Tiago também diz que se a fé não for acompanhada pelas obras ela é morta. Portanto, se eu creio em Jesus Cristo, e entro numa dinâmica de Salvação, esta fé me leva ao seguimento de Jesus, a um testemunho que se verifica em obras de amor, de justiça, de solidariedade, e etc. Mas, aquele que diz: creio em Jesus Cristo, mas no dia-a-dia não vive conforme esta fé na realidade, está enganado. Uma autêntica fé em Cristo me leva a um compromisso com a verdade. São obras de fé que testemunham a graça redentora de Cristo.
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– O que
dizem as Escrituras e a doutrina católica sobre o juízo final? Ele
corresponde também ao fim do mundo?
Padre Wagner Ferreira - O juízo final é uma verdade de fé, presente nas Sagradas Escrituras, em diversos textos bíblicos. A revelação bíblica e a tradição da Igreja nos ensinam que Nosso Senhor Jesus Cristo, um dia, virá para manifestar plenamente a glória de Deus na existência e na história humana. Jesus veio uma primeira vez, estabeleceu definitivamente o Reino de Deus e, depois, Ele ascendeu à glória de Deus. Mas, nós cremos que um dia Ele virá em sua glória para julgar os vivos e os mortos. De modo a estabelecer definitivamente o seu Reino. A vinda gloriosa de Jesus não significa fim do mundo ou destruição do mundo. Mas, será um momento, segundo a Igreja, de renovação de todas as coisas, de um estabelecimento definitivo do Reino de Deus, onde Deus será tudo em todos.
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– E,
por que é preciso rezar pelos mortos?
Padre Wagner Ferreira - Esta prática de oração pelos defuntos tem o seu embasamento nas Sagradas Escrituras. Particularmente, existe uma passagem do segundo livro dos Macabeus capítulo 12, versículo 46, que diz assim: “Eis por que ele, Judas Macabeu, mandou oferecer este sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos de seu pecado”. Então, essa prática de rezar pelos defuntos é muito antiga, vem desde o povo de Israel. Por isso a Igreja entendeu, desde a sua origem, como uma prática importante. Nós somos chamados a rezar pelos fiéis defuntos para que possam ser agraciados com a Misericórdia, com o perdão, com o Amor de Deus. É uma prática piedosa e que a Igreja quis estabelecer um dia para que todos nós, Igreja Peregrina, rezemos pela Igreja Padecente.
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– Além
de rezar pelos que já morreram, existem outras formas de se viver
bem este dia de Finados?
Padre Wagner Ferreira – Além desta atenção especial para com os fiéis defuntos, Finados também é uma oportunidade para que nós como Igreja Peregrina neste mundo possamos rever as nossas opções. Uma vez que a morte pode bater a nossa porta a qualquer momento, nós precisamos ter essa atenção também, não por medo da morte ou de ir para o inferno, mas, pelo contrário, mas por uma adesão mais bonita pelas coisas de Deus e o ao amor ao próximo. É também uma oportunidade para que nós possamos rever as nossas escolhas, tendo em vista também nós comungarmos eternamente da glória de Deus.
Deus
abençoe!
Godofredo
Nunes
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